Vivemos num mundo em que os laços relacionais são cada vez mais frágeis. Hoje, mais que nunca, as relações deixam de ser consistentes e passam a ser passageiras. Há cada vez menos casamentos e mais divórcios. Todos temos um amigo quarentão que ainda não casou e dois ou três que já vão no segundo ou terceiro casamento.
Zygmund Bauman, um sociólogo polaco, disserta sobre a fragilidade das relações num livro excepcionalmente bom que nos inteira deste problema dos tempos em que vivemos. Contudo, a minha abordagem não é sociológica, mas sim ao nível da saúde mental e dos comportamentos, como sabemos. E é, sendo esta perspetiva que lhe falo hoje do amor.
Primeiramente é importante sabermos distinguir o amor da paixão.
A paixão é “fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente” já dizia Luís Vaz de Camões. De facto, a paixão é um sentimento intenso, comummente experienciado nas fases iniciais de uma relação.
Nessa primeira fase sentimo-nos encantados com tudo o que vemos no nosso par, tudo é novidade e há muita adrenalina. Como diz uma paciente minha “ a paixão é sintomática como a epilepsia em doses mais baixas”. Contudo, à medida que a relação avança, começamos a identificar no outro determinadas características que não gostamos tanto. Neste momento poderão surgir sentimentos de desilusão e desencantamento. No entanto, o mais frequente é que as diferenças sejam superadas, sadiamente, e exista uma aceitação recíproca do outro, com devidas cedências de ambas as partes.
Quando conseguimos passar, com sucesso, esta fase, começamos a amar. O amor é um sentimento mais maduro, mais tranquilo, onde a euforia dá lugar, sobretudo, ao companheirismo. Quem conseguiria viver, uma vida inteira, num estado de paixão exacerbado? Seria extenuante!
Em 1997, Robert Sternberg, um psicólogo americano, desenvolveu “A teoria triangular do amor”. Esta teoria considera que o amor é suportado por três pilares fundamentais: paixão, intimidade e compromisso.
Os três pilares do amor
Paixão
A paixão, como aliás já vimos, é o motor que leva ao romance, à atração física e sexual. É o primeiro passo para outros fatores relacionados com o amor.
Compromisso
O compromisso é a condição sine qua non para que um relacionamento possa ser duradouro. É a decisão consciente que cada um toma para amar o outro; é o comprometimento em esforçar-se para manter esse amor.
Intimidade
A intimidade é aquilo que não deixa morrer a paixão. É um vínculo de proximidade com o par amoroso, onde está intrínseca a vontade de saber o outro bem e uma boa comunicação que vai para além dos aspectos práticos e banais de uma vida em comum.
Como sabemos, nada nas relações é um dado adquirido. Para que o amor sobreviva são necessários esforços continuados.
Deixo-lhe aqui algumas questões para refletir:
1. Até que ponto se conhece e sabe as premissas fundamentais que procura num relacionamento?
2. Que papel tem o amor na sua vida? Não vive sem alguém para amar?
3. Em que patamar está a sua autoestima e que limites impõe na relação com o outro?
4. Sabe expressar as suas emoções e comunicar assertivamente com o seu par?
5. Quão resistente é às pequenas frustrações do dia a dia da sua relação?
Finalmente, deixo-lhe algumas dicas:
1. Ame-se, antes de amar o outro. Ao trabalharmos a nossa autoestima estamos a proteger-nos de relações fugazes, destrutivas ou vazias. lembre-se sempre que você é o bolo e o outro é a cereja!
2. Dê tempo ao tempo. Tente conhecer um pouco mais a pessoa por quem se está a apaixonar, sem se perder de si e sem perder o sentido crítico.
3. Não crie expectativas demasiado altas, no início da sua nova relação. Lembre-se que, por vezes, acabamos por ver as coisas como somos e não como elas, efetivamente, são.
4. Por fim, e não menos importante: lembre-se sempre que existem muitas formas de amar.
Até breve!